O verbo fazer é um dos mais importantes na vida humana. Aquilo que nos define como indivíduos é o que fazemos: perguntar "o que é que tu fazes?" a uma pessoa com o objectivo de a conhecer é tão natural como beber água. Se alguém pura e simplesmente não faz nada, então é olhada com um misto de pena e decepção (o olhar do "coitadinho") pelo resto da sociedade, ou pelo menos pela parte da sociedade que se preocupa com isso. O stress, essa doença tão moderna, tem origem no simplesmente no facto de se querer (ou ser obrigado a) fazer mais do que é possível. Em suma, andamos todos a fazer alguma coisa.
Porém, talvez devido a essa obsessão com o fazer, acabamos por dizer que fazemos coisas que nunca deviam ser feitas. E aqui, tenho que dizê-lo, desculpem se ferir susceptibilidades mas isto é mesmo assim, a culpa é dos franceses. Boa parte da culpa. Um bocadinho da culpa. Se há duas coisas que os franceses gostam de fazer é de jogar instrumentos musicais (jogar piano, jogar guitarra, jogar saxofone...) e de fazer coisas como atenção e cuidado. Depois claro que os nossos emigrantes trazem os termos para cá, mas a culpa não é deles, se os franceses quisessem "avoir attention" em vez de "faire attention", os emigrantes também não vinham fazer atenção para cá.
É que fazer significa fabricar, construir. E, mais importante que tudo, fazer significa que somos nós que o fazemos, não é outro qualquer. E ter é possuir, é chamar seu a uma determinada coisa. Se eu tenho algo não implica necessariamente que o fiz, posso tê-lo recebido de outra pessoa ou entidade. Ora, o cuidado não se fabrica. Ou se tem ou não se tem. Quem tem cuidado age de acordo com o cuidado que tem. Não perde tempo a fazer cuidado antes de agir.
Segundo ponto em questão: fazer doenças. Aparentemente alguns de nós acham-se narcisistas o suficiente para pensar que são eles próprios que fazem gripes, congestões, pé de atleta, pneumonias, depressões, sei lá, SIDA e mais não sei quê. Depois chegam ao pé de nós e dizem "não andes à chuva que ainda fazes uma constipação!" Esquecem-se que as constipações são feitas por uns bonequinhos pequeninos chamados vírus, são eles que fazem a doença e depois oferecem-nos a dita cuja, passando nós a tê-la. É muito feio tomar crédito de algo que não fomos nós que fizemos, não é?
O que nos leva aonde eu queria chegar no fundo, ao terceiro e mais importante ponto da história: fazer amor. Ou, como eu gosto especialmente de dizer, fazer o amor. Meus amigos, aparentemente o amor faz-se. Fabrica-se. Constrói-se. E perguntam vocês como é que se faz o amor? Tem-se sexo. Ora bem, em Portugal argumenta-se que o sexo também se faz, mas tomo aqui a posição dos nossos amigos anglófonos, com a sua dicotomia make love / have sex. Por isso é que nos filmes americanos eles demoram tanto tempo para dizer "I love you". Porque é assim: primeiro apaixonam-se, mas é só paixão, não há amor ainda. Depois passam uns tempos a fazer amor, fazem, fazem, fazem até terem os dois uma grande pilha de amor para dar e vender. E só depois é que realmente dizem que amam o outro. O problema é que quando um deles diz o temível "I love you" e o outro acha que ainda não o ama o suficiente. É porque o primeiro fez mais amor que o segundo. Provavelmente sozinho.
Mas continuo a não conseguir entender porque é que o amor se faz e o sexo se tem. Bem, podemos argumentar que sexo já o temos mesmo, cada um de nós tem um, a questão é que efectivamente fazemos alguma coisa com eles. Segundo a mesma lógica, se quiséssemos dar a mão podíamos dizer "vamos ter mão" e se quiséssemos beijar-nos podíamos dizer "vamos ter boca". Esta fica sem perceber, quem souber a resposta que responda. Outra pergunta que tem que ser feita é: porque é que duas pessoas que se amam fazem amor. Para quê? Já não fizeram amor suficiente para se amar um ao outro? E depois o que é que fazem ao amor em excesso? É que depois andam por aí impregnados de amor a dar beijos e a fazer avanços em público, e a certa altura ninguém pode estar ao pé deles de tão melados que estão. Fazem amor a mais, e depois não têm onde o meter. Olhem, a melhor solução é varrer para debaixo do tapete, que é como quem diz escondê-lo dentro do útero da mulher, mas depois não se admirem que o tapete venha a ter um alto tal que já não se consegue disfarçar.
Porém, talvez devido a essa obsessão com o fazer, acabamos por dizer que fazemos coisas que nunca deviam ser feitas. E aqui, tenho que dizê-lo, desculpem se ferir susceptibilidades mas isto é mesmo assim, a culpa é dos franceses. Boa parte da culpa. Um bocadinho da culpa. Se há duas coisas que os franceses gostam de fazer é de jogar instrumentos musicais (jogar piano, jogar guitarra, jogar saxofone...) e de fazer coisas como atenção e cuidado. Depois claro que os nossos emigrantes trazem os termos para cá, mas a culpa não é deles, se os franceses quisessem "avoir attention" em vez de "faire attention", os emigrantes também não vinham fazer atenção para cá.
É que fazer significa fabricar, construir. E, mais importante que tudo, fazer significa que somos nós que o fazemos, não é outro qualquer. E ter é possuir, é chamar seu a uma determinada coisa. Se eu tenho algo não implica necessariamente que o fiz, posso tê-lo recebido de outra pessoa ou entidade. Ora, o cuidado não se fabrica. Ou se tem ou não se tem. Quem tem cuidado age de acordo com o cuidado que tem. Não perde tempo a fazer cuidado antes de agir.
Segundo ponto em questão: fazer doenças. Aparentemente alguns de nós acham-se narcisistas o suficiente para pensar que são eles próprios que fazem gripes, congestões, pé de atleta, pneumonias, depressões, sei lá, SIDA e mais não sei quê. Depois chegam ao pé de nós e dizem "não andes à chuva que ainda fazes uma constipação!" Esquecem-se que as constipações são feitas por uns bonequinhos pequeninos chamados vírus, são eles que fazem a doença e depois oferecem-nos a dita cuja, passando nós a tê-la. É muito feio tomar crédito de algo que não fomos nós que fizemos, não é?
O que nos leva aonde eu queria chegar no fundo, ao terceiro e mais importante ponto da história: fazer amor. Ou, como eu gosto especialmente de dizer, fazer o amor. Meus amigos, aparentemente o amor faz-se. Fabrica-se. Constrói-se. E perguntam vocês como é que se faz o amor? Tem-se sexo. Ora bem, em Portugal argumenta-se que o sexo também se faz, mas tomo aqui a posição dos nossos amigos anglófonos, com a sua dicotomia make love / have sex. Por isso é que nos filmes americanos eles demoram tanto tempo para dizer "I love you". Porque é assim: primeiro apaixonam-se, mas é só paixão, não há amor ainda. Depois passam uns tempos a fazer amor, fazem, fazem, fazem até terem os dois uma grande pilha de amor para dar e vender. E só depois é que realmente dizem que amam o outro. O problema é que quando um deles diz o temível "I love you" e o outro acha que ainda não o ama o suficiente. É porque o primeiro fez mais amor que o segundo. Provavelmente sozinho.
Mas continuo a não conseguir entender porque é que o amor se faz e o sexo se tem. Bem, podemos argumentar que sexo já o temos mesmo, cada um de nós tem um, a questão é que efectivamente fazemos alguma coisa com eles. Segundo a mesma lógica, se quiséssemos dar a mão podíamos dizer "vamos ter mão" e se quiséssemos beijar-nos podíamos dizer "vamos ter boca". Esta fica sem perceber, quem souber a resposta que responda. Outra pergunta que tem que ser feita é: porque é que duas pessoas que se amam fazem amor. Para quê? Já não fizeram amor suficiente para se amar um ao outro? E depois o que é que fazem ao amor em excesso? É que depois andam por aí impregnados de amor a dar beijos e a fazer avanços em público, e a certa altura ninguém pode estar ao pé deles de tão melados que estão. Fazem amor a mais, e depois não têm onde o meter. Olhem, a melhor solução é varrer para debaixo do tapete, que é como quem diz escondê-lo dentro do útero da mulher, mas depois não se admirem que o tapete venha a ter um alto tal que já não se consegue disfarçar.
Sem comentários:
Enviar um comentário