14 dezembro 2011

"Tchau" e a constante cosmológica

Para aqueles que ainda não sabem, embarquei numa nova viagem. E devo gostar mesmo muito do Inverno, porque depois de ter estendido o meu Inverno passado indo para o Brasil precisamente quando este começava por lá, desta vez resolvi passar o Inverno num clima ainda mais frio. O clima dos alegados "donos" da Europa, o alemão.

A cidade de Frankfurt é até bastante agradável, mas a língua alemã é neste momento a principal barreira para mim, que vim para cá sem saber uma palavra da língua. Não porque não me consiga fazer entender se quiser, porque quase toda a gente fala inglês (e não se importam de o falar, ao contrário do que tenho ouvido em alguns mitos urbanos), mas porque eu tenho sempre a mania de querer fazer-me passar por nativo. Como tal, aproveito cada palavrinha de alemão que apanho para a poder utilizar na próxima oportunidade. O problema é que depois de eu dizer Ein Milchkaffee bitte eles respondem com uma data de coisas que eu não consigo entender, e lá tenho eu de pedir para falarem inglês. Enfim, teimosia minha.

Mas o que é que isto tem a ver com a constante cosmológica? Bem, primeiro tenho de explicar o que isso é. Não querendo entrar em muitos detalhes, mas entrando em alguns, porque não quero que os meus leitores morram burros, a constante cosmológica foi um artefacto criado por Einstein para a sua teoria da relatividade geral, para que esta fosse consistente com um universo estático. No entanto, depois que Edwin Hubble (o que deu o nome ao telescópio) descobriu que o universo estava em permanente expansão, Einstein verificou que não precisava da constante, dizendo mesmo que tinha sido o maior erro da sua carreira. Apesar de tudo, anos mais tarde outros cientistas vieram repescar a constante que afinal sempre era precisa porque o universo expande-se ainda mais depressa do que o previsto. Já chega de ciência por agora, o importante a reter é a definição de constante cosmológica como algo que se criou como certo, mas depois descobriu-se que estava errado, mas depois descobriu-se que afinal estava mesmo certo.

Vem isto a propósito dos meus primeiros dias na cidade, depois de conhecer os meus novos colegas de trabalho e de me habituar a um ambiente de trabalho anglófono (com o qual não tenho grandes problemas), ao fim da tarde um deles foi-se embora, despediu-se de todos com um Goodbye, e eu atiro-lhe com um Tchau! à portuguesa. Mesmo depois de estar o dia todo a falar inglês, aquilo saiu-me assim.

Percebi de repente que tinha dito algo que ninguém percebia ali, e de imediato tentei explicar-me, aproveitando a presença de um colega italiano para dizer que o Tchau português era equivalente ao Ciao italiano, embora só o usássemos na despedida. Eles perceberam, e eu fiquei satisfeito por ter corrigido o erro.

Qual não é o meu espanto quando, no dia seguinte, ouço dois alemães a despedir-se um do outro com Tchau.

E depois vejo os meus colegas alemães a fazer a mesma coisa. Depois de indagar o que se passava, fiquei a saber que, além do mais formal Auf Wiedersehen e do mais popular Tschüß, os alemães também usam Tschau como forma de despedida. Portanto o Tchau que eu tinha dito à portuguesa afinal também estava correcto como palavra alemã! E por isso o Tchau é a minha constante cosmológica.

Bónus: apesar de ter aprendido rapidamente termos como DankeBitte, e o mais recente Kaputt (por exemplo, "o meu cartão não funciona" - meine Karte ist kaputt), andei um pouco traumatizado nos primeiros tempos por não saber dizer "desculpe" em alemão. Só para conseguir pronunciar Entschuldigen Sie demorei mais de uma semana. Até que um dia uma senhora esbarra comigo no eléctrico e diz Pardon, à francesa, que afinal é uma palavra que os alemães também utilizam. Enfim...

(english version)

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