Nunca tive jeito para apresentações. Aquelas onde se chega ao pé da outra pessoa e se diz "Olá, sou o João, muito prazer em conhecê-lo". Sim, essas mesmo. À primeira vista não parece muito complicado, mas o facto é que há todo um ritual na apresentação que é mais complexo do que parece e onde é muito fácil falhar em pequenas coisas. As pequenas coisinhas que transformam rapidamente algo perfeito em algo, digamos, desajeitado e, em última instância, estúpido.
A começar pelo nome. Sempre me fez confusão as pessoas se apresentarem dizendo o próprio nome. Não não, só o próprio nome. Não algo tão sofisticado como "Olá, sou o João", algo mais duro e ríspido, como "João." Uma apresentação que podia ser moderadamente longa e educada é substituída por "João." "Maria." Assim, às três pancadas. Isto quando os novos conhecidos não dizem os próprios nomes ao mesmo tempo, o que acontece metade das vezes, regozijando-se por ter dito o próprio nome mas ficando, afinal sem saber o nome do outro. Ainda mais esquisito acho quando o meu interlocutor decide dizer o nome completo. "Pedro Morais de Vasconcelos." OK, é mesmo assim que ele quer que eu o chame? Será que me vê mais tarde a olhar para ele e dizer "Ó Pedro Morais de Vasconcelos, passa aí uma cerveja"? Por tudo isto e mais alguma coisa, muitas vezes não me apresento com o próprio nome, por isso a minha apresentação típica é algo deste género:
O outro - "Pedro Morais de Vasconcelos."
Eu - "Olá..."
Por outro lado, se não nos dizem o nome ficamos sem saber como a pessoa se chama, o que é uma chatice. Temos de esperar que mais alguém chame por ele, ou ele se apresente a outra pessoa, e se tudo o resto falhar temos de passar pela humilhação do "Como é que te chamas, mesmo?". Eu caí nesta esparrela já algumas vezes, talvez porque quando não dizemos o próprio nome o outro não tem necessidade de o fazer também. Lembro-me que na minha adolescência convivi com uma pessoa durante meses sem saber o seu nome. O problema é que o "Como é que te chamas, mesmo?" tem prazo de validade, se deixarmos passar muito tempo deixamos de o poder usar, a humilhação seria insuportável, como se fôssemos atingidos por raios ou algo do género. Felizmente, passados alguns meses, alguém chamou a pessoa pelo nome, e eu ouvi e registei. Não tive de passar pela humilhação, ainda maior que a anterior, de a pessoa descobrir que eu não sabia o nome dela, como aconteceu neste episódio do Seinfeld.
A melhor apresentação, a meu ver, é a que é mediada por terceiros. É a terceira pessoa que diz os nomes (e nada de nomes completos!), e os outros dizem "Muito prazer". Toda a informação está dada, toda a gente ganha. O "Muito prazer", ou, na sua forma abreviada, "Prazer...", é também muito interessante na medida em que é uma expressão que pode ir do hipócrita (será que temos mesmo prazer em conhecê-lo?) ao vagamente erótico (basta levar a expressão à letra). Dá também abertura à mais elegante expressão a usar em apresentações, "O prazer é todo meu". "O prazer é todo meu" torna uma apresentação perfeita: retira-lhe qualquer traço de hipocrisia e puxa-a para o lado do vagamente erótico, o que em muitos casos é uma mais-valia. É normalmente acompanhado do prefixo "Ora essa," mas no meu entender o prefixo é dispensável. Acredite e experimente usar "O prazer é todo meu" numa apresentação: verá os olhos do seu interlocutor brilharem de satisfação.
Frequentemente há pequenas coisas que falham nas minhas apresentações. Por vezes sinto-me culpado ao aperceber-me que, depois da apresentação, a outra pessoa não ficou a saber o meu nome. Outras vezes, digo o nome mas de fugida (muitas vezes entre o primeiro beijinho e o segundo), o que dá o mesmo efeito.
E no fim de tudo, o facto de saber que vou ter uma apresentação esquisita habilita-me a fazer ainda mais disparates. Os mais recentes foram com novos colegas de trabalho: estando habituado a ver estas pessoas todos os dias e dizer simplesmente bom dia sem cumprimentar ninguém, o que é suposto fazer afinal ao conhecer um novo colega? Ou, para complicar um bocadinho mais, uma nova colega? Uma delas, ao ser apresentada por outrem, levantou-se para me dar dois beijinhos, depois mudou para o aperto de mão, e por fim desistiu ao ver que eu começava a falar, dando a apresentação por concluída ainda antes de ter começado. Na segunda cometi o erro de saber o nome dela antes de a conhecer, quando a vi pela primeira vez saltei a apresentação, chamei-a e falei com ela normalmente, com a maior naturalidade, como se a conhecesse há meses... Pode parecer arrogante ou de má-vontade, mas acreditem, não é mais que falta de jeito.
Por fim, uma nota sobre o título deste post. É óbvio que o título é um bocado exagerado. Não me posso considerar um homem que dispense apresentações, apenas um que não tenha jeito para as fazer. Ainda assim, lá me vou apresentando como posso. Olá, eu sou o... aaaa... Posso causar uma terrível primeira impressão, mas prometo que isto vai melhorando com o tempo.
(english version)
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2 comentários:
Hum, não posso deixar de sentir empatia ao ler o post. É daquelas coisas que, provavelmente, muitos de nós já sentimos/passámos (excepto os PROs na arte da apresentação :D) mas nunca pensámos a serio pois muitas das vezes, senão quase sempre, é um momento tão efémero (salvo raras excepções de empatia com a pessoa à qual nos estamos a apresentar) que nos acabamos por esquecer do assunto.
Já n me lembro bem como foi a nossa apresentação eheh mas lembro-me que foste das 1ªs pessoas que conheci na empresa. Lembro-me porem da breve formação que tive sobre o TR e os nossos relógios de ponto no 1º dia de trabalho :P
Hasta manhana!
hehe não sabia que havia outros como eu!
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