Mostrar mensagens com a etiqueta não-se-aponta-que-é-feio. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta não-se-aponta-que-é-feio. Mostrar todas as mensagens

12 outubro 2011

Nem ao menos disseste olá?


O que é que é suposto fazermos ao certo quando vemos alguém que conhecemos na rua ou no supermercado, mas a pessoa em questão não nos vê? Dizemos-lhe olá? Ou não lhe dizemos olá? É sem dúvida mais fácil quando simplesmente esbarramos um no outro, ou então vemo-nos ao longe mas ao mesmo tempo. Nessa altura dizemos olá naturalmente, trocamos beijos e abraços, pomos a conversa em dia. Mas quando vemos uma pessoa que não repara em nós, hesitamos. Vamos lá ter com ela e mostramos-lhe que também estamos aqui? Fingimos que não a vemos e tentamos sair sem sermos vistos? A meu ver existem quatro maneiras de resolver este problema, e vou falar sobre elas a seguir.

1. O Olhar Fixo
O Olhar Fixo funciona bem quando está sentado em algum lugar, ou simplesmente não estando em movimento. Não funciona bem em andamento, a não ser que ande na mesma direcção da outra pessoa. Além disso é necessário que esteja pelo menos no seu campo de visão. O método é simples: olhar fixamente para a pessoa que se conhece até ela reparar em si. Pode levar algum tempo para que isso aconteça, e entretanto irá observá-la a olhar em todas as direcções possíveis, todos os ângulos possíveis excepto aquele que aponta directamente para si. E vão haver algumas vezes em que ela não repara em si mesmo estando a olhar directamente na sua direcção. Mas, quando (e se) isso finalmente acontece, poderá então dizer olá de longe, ou então fazer a Ida Até Lá. O Olhar Fixo pode ser um pouco difícil se não estiver concentrado: se usar O Olhar Fixo só de vez em quando arrisca o aparecimento do Duplo Olhar Fixo, em que cada pessoa, à vez, tenta chamar a atenção da outra, mas desvia o olhar no preciso momento em que a outra começa a olhar para ela.

2. A Chamada
A Chamada é a forma mais perigosa das quatro, uma que pode embaraçá-lo irremediavelmente se não a usar correctamente. É melhor se usada perto da outra pessoa e quando O Olhar Fixo não funciona ou não está a funcionar. Na Chamada deve chamar a pessoa pelo seu nome ou de outra forma qualquer. Eu sugiro vivamente que chame a pessoa pelo nome, porque o uso de termos como "Pssssst" ou "Olááááá!" ou "Hei, tu aí!" fará com que toda a gente se vire e olhe para si, excepto a pessoa que está a chamar. E depois, se a pessoa estiver muito longe de si ou houver muito barulho, acabará por chamá-la vezes sem conta, sem qualquer sucesso que não o de alertar toda a gente à sua volta; nesses casos, o melhor é tentar a Ida Até Lá ou a Fuga De Mansinho.

3. A Ida Até Lá
A Ida Até Lá é para ser usada quando tudo o resto falha. É 100% eficaz, mas pode ser um bocadinho complicada porque é necessário ir até onde a pessoa está e chamar-lhe a atenção, ou tocando-lhe ou fazendo A Chamada. Nem sempre é possível ir para junto da outra pessoa, talvez não possa deixar as suas coisas sem ninguém para olhar por elas, ou não possa deixar o seu grupo de amigos. Há poucos dias encontrei um colega meu numa escada rolante, comigo a ir para baixo e ele a ir para cima; se fizesse a Ida Até Lá naquele sítio, seria o caos! Mas se tem oportunidade de ir até junto da pessoa, óptimo! Irá com certeza, definitivamente fazer com que ela repare em si. Mas primeiro deve perguntar-se a si próprio, será que ela merece uma Ida Até Lá?

4. A Fuga De Mansinho
Sim, você pode fazer essa escolha. Pode escolher ignorar e ir-se embora. Mas A Fuga De Mansinho não é apenas sobre ir-se embora. É que agora que decidiu que não se vai mostrar à outra pessoa, vai ter de se assegurar que a outra pessoa não o vê. Mais importante ainda, tem que se assegurar que ela não repare que você reparou nela! Porque se ela o fizer, vai notar também que está a tentar evitá-la. É por isso que é uma Fuga De Mansinho e não uma ida embora. Se conseguir fugir em segurança, A Fuga De Mansinho dar-lhe-á automaticamente uma breve consciência pesada e a incapacidade de contar aos outros quem viu nesse dia, porque se isso chega aos ouvidos da pessoa em questão, ela vai-lhe perguntar porque é que nem ao menos disse olá. Mas não se preocupe, vai correr tudo bem.

Poderá usar qualquer uma destas quatro formas dependendo da situação, mas eu acredito que uma pessoa pode ser definida pela forma que usa mais frequentemente. Diga lá então, que tipo de pessoa é?

(versão inglesa)

09 agosto 2011

A Crônica do Beijinho

Calma, calma, suas mentes perversas e sedentas de tudo o que tenha minimamente a ver com sexo. Esta não é uma crônica do beijo, do beijo fogoso, quente, apaixonado. É uma crônica do beijinho, do beijinho de amigo, do beijinho de cumprimento. Porque é que é crônica? Não sei, podia ser a História do Beijinho, ou o Dilema do Beijinho. Crônica não é bem história mas soa melhor, e além disso Crônica rima com a Turma da Mônica.

Repararam que ainda escrevo com sotaque brasileiro? Pois é, minha gente. Já voltei do Brasil faz dois meses, mas há uma coisa que não consegui tirar da ideia quando lá estive, que não consigo tirar da ideia desde que voltei: afinal, no Brasil devo cumprimentar as mulheres com um beijinho ou com dois?

Em Portugal é fácil. Todo mundo se cumprimenta com dois beijinhos, exceto as tias de Lisboa (e arredores), para quem um beijinho só é que é fino, e dois é "pessidonice" (é brega, pronto). Na Rússia e na Suíca são três; em França são quatro (aí, beijoqueiros!). Em Nova Iorque dão apenas um beijinho, embora mesmo assim algumas pessoas não gostem muito. Na Suécia não tem beijinho nenhum, eles dão uma espécie de "meio abraço".

E no Brasil? Nunca entendi. Umas vezes dei um, outras vezes dei dois. Fiquei pensando se seria comum darem dois beijinhos de vez em quando, ou se me davam dois beijinhos a mim porque eu era português. Também não dá pra entender muito bem porque o gesto de dar beijinho de cumprimento é quase automático. É uma questão de milésimos de segundos, se de repente você se inclina para me dar um beijinho na outra face, eu vou perceber e vou instintivamente fazer o mesmo. Mesmo que minha intenção inicial fosse de me afastar depois do primeiro beijinho.

Quanto a mim, um beijo só é coisa que não faz sentido. O ser humano tem duas faces, porque é que só uma pode levar beijinho? Porque é que uma face tem que ficar rindo e outra chorando? Tem que dar beijinho nas duas, pô! É o princípio da igualdade!

Até no mundo virtual os portugueses se cumprimentam de forma diferente dos brasileiros. Português se despede de seus amigos virtuais mandando beijinhos (bâijinhush). Pequeninos, mais muitos. A não ser quando envia "beijinhos grandes". Aí se ferrou. Que é que é um beijinho grande? Afinal é grande, ou é pequeno? Será o mesmo que um beijão pequeno? Ou é o contrário?

Brasileiro, pelo contrário, é mais maduro, mais adulto. Não tem essa coisa de beijinho não, brasileiro manda beijo (bêjo) mesmo. E não manda beijos, manda Um Beijo, só um, que brasileiro não é brega não. Beijos no Brasil são poucos mas poderosos, um só dá pra sustentar você até o dia seguinte.

Portanto é isso aí, meus irmãos do Brasil. Me ajudem a resolver essa dúvida. Vocês dão um beijinho ou dois? Olhem que a outra face também merece!

Apideite: com a ajuda de alguns amigos brasileiros lá consegui descobri quantos beijinhos se dão no Brasil. E a resposta é: depende do estado! No estado de São Paulo é um, no do Rio de Janeiro são dois, e no fabuloso estado de Minas Gerais dão três beijinhos, três! Êta estado beijoqueiro!!!

(Nota: Apideite não é uma palavra a sério. Não, nem no Brasil)

02 agosto 2011

Etiqueta e boas maneiras

Diria Paula Bobone (e se calhar até disse mesmo) que a boa educação é o que nos distingue dos animais selvagens. E com toda a razão. A boa educação nunca fez mal a ninguém. Veja-se, a título de exemplo, os famosos duelos entre nobres do século XVII: "Com sua licença, desafio-o para um duelo até à morte!". Assim sim, dava gosto ver assassinar pessoas. Assassino sim, mas com educação. Esquecem-se os apologistas da boa educação que devia preocupar-se mais com ela quem educa e não quem é educado, mas isso é história para outro artigo. Para já, queremos dizer que temos etiqueta e boas maneiras, e por isso não somos nenhuns trogloditas.

Mas agora que começamos a entrar no verdadeiro século XXI (porque os primeiros dez anos foram apenas para nos ambientarmos), os antigos manuais de boas maneiras começam a ficar obsoletos. Convenhamos que frases como "Nunca permita que manteiga, sopa ou qualquer outra comida permaneça nos seus bigodes" já não se usam porque hoje em dia ninguém tem bigode. E como hoje em dia há até altos responsáveis do governo português que se escusam a usar gravata, penso que é uma boa oportunidade para revolucionar o conceito de boa educação e prepará-la para este século.

Deixo-vos por isso alguns conselhos práticos de boas maneiras. Com o tempo, este artigo irá sendo acrescentado de forma a se tornar um manual completo de etiqueta para o século XXI. Aqui vão algumas sugestões:

1 - Quando alguém se apresentar a si dizendo o seu nome, responda "Muito prazer". Esta resposta, além de educada, dá-lhe, mesmo que por alguns segundos, o perverso prazer de já saber o nome dessa pessoa sem que ela saiba o seu. Os interlocutores mais atrevidos, depois de um visível embaraço, perguntar-lhe-ão de imediato o seu nome, pergunta à qual terá de responder honestamente. Os mais tímidos, porém, optarão pelo silêncio e ficarão o resto da noite à coca a ver se alguém o chama pelo nome.

2 - Tente espirrar uma segunda vez depois da outra pessoa dizer "santinho". Este é um teste à boa educação do seu interlocutor. Se ele for realmente bem educado, dirá "santinho" também da segunda vez. Se conseguir ter múltiplos espirros, então torna-se um jogo de forças, a ver quem desiste primeiro. Se o seu interlocutor não disser "santinho" uma vez por cada espirro seu, não precisa de lhe dizer "obrigado".

3 - Ao receber alguém em sua casa, peça desculpa pela desarrumação apenas se a casa estiver IMPECÁVEL. As suas visitas ficarão impressionadíssimas e andarão o resto da noite a inspeccionar a casa para tentar perceber ao certo qual será a parte da mesma que está desarrumada.

4 - À mesa, diga "Bom apetite" apenas quando todos os outros já começaram a comer. Isto provocará um enorme peso na consciência dos seus comensais, que finalmente se lembrarão que se atiraram à comida que nem uns alarves e não esperaram por ninguém para o fazer. Com alguma sorte, um deles engasgar-se-á com a comida e um outro otário que não conhece a manobra de Heimlich irá bater-lhe com toda a força nas costas.

5 - Avise os outros que vai começar a comer com as mãos. Esta regra é simples. Sejam costeletas de porco ou bacalhau com natas, comer com as mãos é sempre permitido desde que se avise antecipadamente. Pode dizê-lo de várias maneiras, desde a simples e directa "É só para avisar que vou comer isto com as mãos", passando pela subtil "Pessoal, isto é frango, tem que se comer com as mãos, não é?" e até à rija e máscula "É pá, eu como sempre isto com as mãos. É à portuguesa!". Outra nota importante: não é de bom tom aproveitar-se de outra pessoa o ter anunciado primeiro para começar a comer com as mãos também: todos os que pretendem comer com as mãos devem dizê-lo bem alto para toda a mesa ouvir.

6 - Empanturre sempre as suas visitas e diga-lhes que é para não "fazerem cerimónia". A ironia desta singela frase é que é precisamente para fazer cerimónia que as suas visitas vão acabar por comer mais do que pretendiam. Lembre-se que deve sempre pôr-lhes mais comida no prato e mais vinho no copo sem elas pedirem (e até, se possível, sem elas verem), e principalmente, não os deixe voltar a colocar a comida na travessa, porque "parece mal". Ao terminar a refeição, faça desaparecer todos os pedaços de carne da travessa menos um, e obrigue a visita a comê-lo, "para não se estragar". Como cereja no topo do bolo (que aliás também convém que a visita coma), diga-lhe no final para "não ir lá para fora dizer que foi daqui cheia de fome".

15 fevereiro 2011

Posso fazer uma pergunta? Posso?

Outra coisa que é particularmente irritante é quando alguém chega ao pé de nós e diz "Posso fazer-lhe uma pergunta?". Aliás, há várias correntes deste tipo de pergunta: "Pode fazer-me um favor?", "Pode tirar-me uma dúvida?", "Posso colocar-lhe uma questão?", "Pode dar-me uma informação?"

Há que esclarecer que há também duas versões desta questão, uma menos irritante e outra mais irritante. A menos irritante é quando dizem "Posso fazer-lhe uma pergunta?" e fazem a pergunta logo a seguir, portanto a primeira é assim uma espécie de introdução para a segunda. Mas irrita mais quando dizem "Posso fazer-lhe uma pergunta?" e ficam à espera que eu responda para me fazerem a pergunta!

Obviamente que tudo se passa no campo da boa educação e não é suposto irritar só por ser educado. Mas quando ouvimos isto vezes sem conta, e dito pelas mesmas pessoas, começa a irritar um bocadinho. Eu pessoalmente sou uma pessoa mais prática, se me fazem uma pergunta eu gosto de responder o mais rapidamente possível, mas para isso tenho que saber o que me estão a perguntar! Para dar um exemplo, um dia uma mulher abordou-me na rua e fez-me esta pergunta:

- Olhe, faz-me um favor? O senhor é capaz de dar-me uma informação? O senhor sabe-me dizer onde fica o grpgdfglt?

(naturalmente, eu, que tenho um problema de audição selectiva, acabei por não perceber o fim da frase, que era o mais importante e lá tive de pedir à senhora para repetir. Felizmente, não repetiu tudo desde o início).

Notem que em nenhuma das perguntas que fez ela perguntou o que queria realmente saber. As respostas podiam ter sido simplesmente "Faço", "Sou" e "Sei", e a mulher ficava na mesma. E a questão é precisamente essa: quando alguém pergunta "Posso fazer-lhe uma pergunta?", o que é que suposto respondermos?

Eu diria que em quase 100% dos casos temos que responder que sim. Alguma vez responderíamos "não"? Se por acaso respondêssemos "não" acontecia uma de três coisas:
  1. Diziam "Ah ah ah, brincalhão" e faziam a pergunta na mesma;
  2. Perguntavam "tem a certeza?", diziam "olhe que preciso mesmo de saber", e insistiam, insistiam até eu finalmente dizer que sim;
  3. Diziam "Pronto, está bem... idiota..." e iam-se embora amuados e a pensar que eu era um antipático e mal-educado.
Se eles sabem que eu tenho de responder que sim, porque é que perguntam se podem perguntar? Porque é que não perguntam logo aquilo que precisam de saber? Têm medo de mim, que lhes rosne que não quero responder a pergunta nenhuma ou que lhes diga que estão a fazer perguntas idiotas? Mas claro que só vou saber se a pergunta é idiota depois de a fazerem. Acham que estou muito ocupado e não me querem desconcentrar? Helloooo! É tarde demais, com o "Posso fazer-lhe uma pergunta?" já fiquei completamente desconcentrado!

Na verdade há uma razão para este tipo de perguntas que me assusta mais do que me irrita. Às vezes perguntam-me se me podem perguntar porque a pergunta propriamente dita é muito elaborada. Quando eu sei que é um "Posso fazer-lhe uma pergunta?" deste tipo, até tremo dos pés à cabeça.

- Posso fazer-lhe uma pergunta?
- Podes, diz lá.
- Ora bom. Em 1987, eu e duas ucranianas estávamos numas termas e blah... blah... blah... depois blah... blah... portanto achas que devemos vender as 7 caixas ou vender só 5?

Enfim. De tanto responder "Sim", "Podes", "Força", "Diz lá", "Ya...", começo a pensar em respostas parvas para dar. Respostas como:

- Podes, mas é só uma.
- Vá lá, está bem, desta vez passa.
- É pá, vou ter de pensar no teu caso...
- Porquê?
- Não sei, pergunta à Gertrudes que ela deve saber.
- Não sei se podes, vou ter de confirmar com o meu supervisor.
- Poder podes, eu é que não sei se te vou responder...
- Podias, mas já fizeste, agora olha...

Portanto, o que eu quero dizer com isto é o seguinte: não percam tempo a perguntar se podem perguntar! Perguntem logo!

Em tempos inventei o pedido de licença mais educado e mais complicado de sempre. Era assim: "Olhe desculpe, não se importa, por obséquio, de me fazer o favor de me dar licença para eu passar?".

Podiam dizer isto. Ou então podem dizer "Com licença". É a mesma coisa, e evita prolegómenos como este:


Bónus. "Com licença"? "Com licença" quer dizer que se tem uma licença, não é? Então porque é que é equivalente a "Dá-me licença"? Se é "dá-me licença" está a pedir licença porque não a tem, mas se é "com licença" é porque já tem a licença... Também dá direito a respostas parvas, como "Onde é que está a licença?", "Deixe cá ver" e "Para ligeiros ou pesados?".

02 outubro 2010

Santinho não... santão!

Serei só eu que acho ridículo que se diga "Santinho" às pessoas adultas quando elas espirram? O que é que isto quer dizer? Ou melhor, porque é que o santo é tão pequenino, afinal? Porque, OK, percebe-se que se diga "Santinho" aos pequeninos, porque olhamos para a cara deles e (a maior parte das vezes) é mesmo isso que eles parecem. Agora a um adulto...

Penso que é claro que ao dizermos "Santinho" estamos efectivamente a chamar santinho à pessoa que espirrou, por isso é que dizemos Santinho aos homens e Santinha às mulheres. A alternativa seria estarmos a invocar um qualquer santo que fosse igual em género ao do nosso interlocutor, mas não me parece que assim seja, até porque talvez um homem preferisse que se invocasse uma santa e vice-versa (que diriam os homossexuais e os travestis?), que confusão que não seria. Portanto, admitindo que lhes estamos a chamar Santinhos, porque não lhes chamar Santos a partir do momento em que fazem 18 anos? Ou então Senhor Santo, a partir dos, sei lá, 40?

É um bocado parecido com o facto de dizermos "para o menino" quando cantamos os parabéns a uma pessoa adulta. Mas aí sabemos que o fazemos de forma consciente (aliás, aqueles que tentam "manter as aparências" e dizer "para o senhor" no meu entender ficam mais mal que bem). Há até quem seja apologista de que quem faz anos é "bebé" no dia do seu aniversário. Chamar "menino" a uma pessoa adulta, conscientemente, no dia do seu aniversário, é fazer-lhe um elogio, é fazê-lo voltar aos seus tempos de infância, e portanto, quanto a isso não tenho nada contra.

Mas o "Santinho" é involuntário, é uma expressão que proferimos quase por reflexo, sem pensar nas consequências dos nossos actos. "Santinho" era algo que os nossos pais nos diziam desde pequeninos, que ficou gravado na nossa mente e que continuamos a usar com toda a gente na falta de uma expressão melhor. Não temos nada do nível de um "Bless You!" anglo-saxónico (algo parecido com "Deus te abençoe" quando traduzido à letra). Aliás os próprios estrangeiros, ao aprender português (já para não falar dos lusófonos do Brasil) têm dificuldade em perceber a expressão "Santinho/Santinha", substituindo-a frequentemente por "Viva" ou "Saúde", alternativas que não convencem (ninguém aqui diz "Saúde" assim do nada, e "Viva" é mais uma forma de cumprimento) mas mesmo assim são mais dignas. Outros, já portugueses, têm as suas próprias alternativas, que no fundo expõem o ridículo da situação, casos, por exemplo, de "Diabinho" ou "Nunca fostes" (sic).

E depois há também casos em que, além de ridícula, a expressão é desconfortável ou mesmo injusta, quando nos apercebemos que estamos a chamar santinho a alguém de quem não gostamos ou mesmo que, na nossa opinião, é tudo menos um santo. Imaginem dois lutadores de boxe naquelas conferências de imprensa que antecedem o combate:

- Este senhor que tenha cuidado comigo, porque no combate vou dar cabo dele.
- Eu não tenho medo, pá, bates como uma menina!
- Bato o quê? Queres ver se queres levar já!
- Anda cá, menina, que eu não tenho medo!
- É pá, eu parto-te todo, eu dou cabo de ti!
- Anda cá, anda cáaaaa... atchim!
- Santinho.

Pensem bem nisto. Chamariam santinho ao colega que foi promovido não por trabalhar de forma exemplar, mas por passar o tempo a dar graxa ao patrão e a falar mal dos outros? Chamariam santinha à colega coscuvilheira, que sabe tudo da vossa vida, vá-se lá saber como, e não se inibe de a contar a quem quer que seja que lhe apareça pela frente? Então e aquele senhor com ar de cinquentão, cabelo grisalho e nariz abatatado, que nos pede sempre para fazer sacrifícios mas depois não cumpre o que prometeu? Que lhe diriam a ele quando espirrasse? Tem que haver uma outra expressão. Tem que haver uma alternativa.

24 agosto 2010

Ó Sr. Engenheiro, olhe que eu levo a mal...

Continuamos nas coisas particularmente irritantes, e desta vez quero falar daquelas pessoas que se chegam sempre à frente quando é para pagar a conta do jantar. Como diz o povo, isto só neste país. Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum e perfeitamente aceitável dividir a conta a meias, cada um paga a sua parte e todos ficam contentes. Mas em Portugal não, porque alguma mente iluminada lembrou-se de lançar a moda de que fica bem oferecer-se para pagar a conta. 

Mostra riqueza, ostentação, coisas do género. Mas vejamos, se há dois milhões de pobres em Portugal, então há quatro quintos da população portuguesa que se podem dar ao luxo de pagar a conta de vez em quando. É alguma coisa de especial? Não, é banalíssimo! E aliás, mesmo dos dois milhões de pobres acredito que haja para aí um milhão que insiste em pagar a conta mesmo não podendo. Se isto é mostrar riqueza, não estaremos já todos ricos afinal?

OK talvez esteja a ser um bocado injusto com a maioria da população. Porque normalmente o acto de pagar a conta pressupõe um certo quid pro quo, desta vez pago eu, da próxima vez pagas tu. E enquanto correr assim, tenho que dar a mão à palmatória, por mim tudo bem, não tenho nada contra. Problema nº 1: ninguém realmente conta as vezes que cada um paga, e ai de quem contar porque fica logo mal visto. Problema nº 2: há certas pessoas que nunca contam e pagam sempre! Não estou propriamente a falar de pessoas que ganhem muito mais que eu (e mesmo se estivesse!), estou a falar de pessoas como eu e tu e toda a gente que tem o mínimo necessário para poder ler este blog. E com estas pessoas é impossível lidar: elas chegam-se sempre à frente, elas têm sempre o vocabulário na ponta da língua ("deixa estar", "já está tratado", "eu insisto", "eu faço questão", "ah, nem penses nisso", "guarda lá a carteira"), elas lançam charme para cima do empregado porque é sempre o dinheiro deles que ele aceita, nunca o nosso. E no fim, sorriem satisfeitos, olhando para nós que estamos cheios de vergonha e sentimentos de culpa, só faltando mesmo o riso maquiavélico no final: AH AH AH AH! CONSEGUI! MAIS UMA VEZ CONSEGUI! MAIS UMA EM QUE NÃO VOS DEIXO PAGAR A CONTA! AH! AH! AH! AH! AH!

Que raio de sociedade é esta que nos faz sentirmo-nos culpados por ficarmos com o dinheiro para nós? Se a outra pessoa se ofereceu para pagar de livre e espontânea vontade, porque nos sentimos mal com isso? Mas a sociedade é assim, e por isso temos que arranjar subterfúgios para conseguirmos pagar a conta à frente dos outros. Técnica nº 1: chamar o empregado e pagar sem que nenhum dos outros se tenha apercebido. Técnica nº 2: ser o primeiro a puxar da carteira, ter sempre dinheiro trocado à mão, ou então puxar logo de uma nota ou do cartão enquanto os outros procuram pelos trocos. Técnica nº 3, em último caso: tentar dar um argumento convincente, do tipo "na minha terra pago eu, quando estivermos na tua terra pagas tu", mas nem sempre funciona. E cuidado, há sempre algum risco em usar estas técnicas com as pessoas que pagam sempre, porque elas podem ficar visivelmente chateadas connosco.

Eu confesso, eu devo conseguir pagar a conta em 10% das vezes em que me vejo nesta situação. Não é que não me chegue à frente, mas ou não sou suficientemente rápido, ou não sou suficientemente convincente, e sobretudo porque não gosto de discussões ad aeternum do tipo "Ora essa, pago eu / Ora essa, deixe estar / Não, desta vez pago eu / Homem, deixe estar isso / Não não, eu insisto", por isso, se a pessoa insistir em pagar pela segunda vez, eu simplesmente... deixo-a. Sim, corro o risco de que comecem a olhar para mim de lado e a pensar "é pá, este gajo vem sempre comer connosco e nunca paga a conta...", mas estou de consciência tranquila, afinal o que querem que eu faça?

É que esta gente que se oferece sempre para pagar é particularmente irritante! Eu imagino o que aconteceria se duas dessas pessoas tivessem de partilhar um jantar...


Bónus: isto faz-me lembrar algumas memórias bem antigas, de quando eu tinha 7 ou 8 anos. As discussões que a minha avó tinha com as minhas tias-avós porque estas lhe queriam pagar não sei o quê e a minha avó não queria aceitar. Primeiro, elas punham o dinheiro nas mãos uma da outra, mas nenhuma delas o queria, aos gritos de "Toma lá! / Não quero nada disso! / Ó mulher, toma lá o dinheiro! / Não quero!". Depois, tentavam esconder a nota bem dobrada no bolso uma da outra, mas depois a outra descobria e era ela que ia tentar meter a nota no bolso da primeira. Por fim, as minhas tias olhavam para mim e para a minha irmã mais nova e davam-nos o dinheiro a nós, e eu diria que 1 em cada 4 vezes a minha avó ainda ia buscar o dinheiro e tentar devolver-lhes, mas a maior parte das vezes a coisa resultava, e eu e a minha irmã é que ganhávamos. $$$$$ :D

30 setembro 2009

O homem que dispensa apresentações

Nunca tive jeito para apresentações. Aquelas onde se chega ao pé da outra pessoa e se diz "Olá, sou o João, muito prazer em conhecê-lo". Sim, essas mesmo. À primeira vista não parece muito complicado, mas o facto é que há todo um ritual na apresentação que é mais complexo do que parece e onde é muito fácil falhar em pequenas coisas. As pequenas coisinhas que transformam rapidamente algo perfeito em algo, digamos, desajeitado e, em última instância, estúpido.

A começar pelo nome. Sempre me fez confusão as pessoas se apresentarem dizendo o próprio nome. Não não, o próprio nome. Não algo tão sofisticado como "Olá, sou o João", algo mais duro e ríspido, como "João." Uma apresentação que podia ser moderadamente longa e educada é substituída por "João." "Maria." Assim, às três pancadas. Isto quando os novos conhecidos não dizem os próprios nomes ao mesmo tempo, o que acontece metade das vezes, regozijando-se por ter dito o próprio nome mas ficando, afinal sem saber o nome do outro. Ainda mais esquisito acho quando o meu interlocutor decide dizer o nome completo. "Pedro Morais de Vasconcelos." OK, é mesmo assim que ele quer que eu o chame? Será que me vê mais tarde a olhar para ele e dizer "Ó Pedro Morais de Vasconcelos, passa aí uma cerveja"? Por tudo isto e mais alguma coisa, muitas vezes não me apresento com o próprio nome, por isso a minha apresentação típica é algo deste género:

O outro - "Pedro Morais de Vasconcelos."
Eu - "Olá..."

Por outro lado, se não nos dizem o nome ficamos sem saber como a pessoa se chama, o que é uma chatice. Temos de esperar que mais alguém chame por ele, ou ele se apresente a outra pessoa, e se tudo o resto falhar temos de passar pela humilhação do "Como é que te chamas, mesmo?". Eu caí nesta esparrela já algumas vezes, talvez porque quando não dizemos o próprio nome o outro não tem necessidade de o fazer também. Lembro-me que na minha adolescência convivi com uma pessoa durante meses sem saber o seu nome. O problema é que o "Como é que te chamas, mesmo?" tem prazo de validade, se deixarmos passar muito tempo deixamos de o poder usar, a humilhação seria insuportável, como se fôssemos atingidos por raios ou algo do género. Felizmente, passados alguns meses, alguém chamou a pessoa pelo nome, e eu ouvi e registei. Não tive de passar pela humilhação, ainda maior que a anterior, de a pessoa descobrir que eu não sabia o nome dela, como aconteceu neste episódio do Seinfeld.

A melhor apresentação, a meu ver, é a que é mediada por terceiros. É a terceira pessoa que diz os nomes (e nada de nomes completos!), e os outros dizem "Muito prazer". Toda a informação está dada, toda a gente ganha. O "Muito prazer", ou, na sua forma abreviada, "Prazer...", é também muito interessante na medida em que é uma expressão que pode ir do hipócrita (será que temos mesmo prazer em conhecê-lo?) ao vagamente erótico (basta levar a expressão à letra). Dá também abertura à mais elegante expressão a usar em apresentações, "O prazer é todo meu". "O prazer é todo meu" torna uma apresentação perfeita: retira-lhe qualquer traço de hipocrisia e puxa-a para o lado do vagamente erótico, o que em muitos casos é uma mais-valia. É normalmente acompanhado do prefixo "Ora essa," mas no meu entender o prefixo é dispensável. Acredite e experimente usar "O prazer é todo meu" numa apresentação: verá os olhos do seu interlocutor brilharem de satisfação.

Frequentemente há pequenas coisas que falham nas minhas apresentações. Por vezes sinto-me culpado ao aperceber-me que, depois da apresentação, a outra pessoa não ficou a saber o meu nome. Outras vezes, digo o nome mas de fugida (muitas vezes entre o primeiro beijinho e o segundo), o que dá o mesmo efeito.

E no fim de tudo, o facto de saber que vou ter uma apresentação esquisita habilita-me a fazer ainda mais disparates. Os mais recentes foram com novos colegas de trabalho: estando habituado a ver estas pessoas todos os dias e dizer simplesmente bom dia sem cumprimentar ninguém, o que é suposto fazer afinal ao conhecer um novo colega? Ou, para complicar um bocadinho mais, uma nova colega? Uma delas, ao ser apresentada por outrem, levantou-se para me dar dois beijinhos, depois mudou para o aperto de mão, e por fim desistiu ao ver que eu começava a falar, dando a apresentação por concluída ainda antes de ter começado. Na segunda cometi o erro de saber o nome dela antes de a conhecer, quando a vi pela primeira vez saltei a apresentação, chamei-a e falei com ela normalmente, com a maior naturalidade, como se a conhecesse há meses... Pode parecer arrogante ou de má-vontade, mas acreditem, não é mais que falta de jeito.

Por fim, uma nota sobre o título deste post. É óbvio que o título é um bocado exagerado. Não me posso considerar um homem que dispense apresentações, apenas um que não tenha jeito para as fazer. Ainda assim, lá me vou apresentando como posso. Olá, eu sou o... aaaa... Posso causar uma terrível primeira impressão, mas prometo que isto vai melhorando com o tempo.

(english version)