27 outubro 2011

Organizas???

Também funciona com "Fazes tu?", "Ficas tu com isso?", "Tratas tu disso?" E no momento em que ouves qualquer uma destas simples perguntas, sabes imediatamente que estás tramado. Começas a pensar em tudo o que disseste até então, e perguntas-te vezes sem conta para que é que foste abrir a boca e como é que foste capaz de cair nesta esparrela.

Há um lema que persiste em algumas das boas e prósperas empresas de software. Penso que soará melhor dito em inglês: "if you have an idea, you own that idea". Se tu tens uma ideia, és o dono dessa ideia. Ser o dono da ideia significa, por um lado, assumir toda e qualquer responsabilidade pela implementação da ideia. Na verdade, não há pessoa mais indicada para o fazer que o autor, o idealizador da ideia, por isso é lógico que assim seja. Mas por outro lado, atribuir a posse de uma ideia ao seu autor significa também que é ele que colherá os frutos se a ideia for bem sucedida, o que também é justo.

As referidas empresas fazem isso para poder distinguir as ideias sérias e construtivas das ideias vãs e "atiradas para o ar". E assim que um colaborador dessa empresa percebe isso, ele sabe que tem que ter muito cuidado com as ideias que tem. Não basta dizer simplesmente "tem que se fazer isto", "o que se devia fazer era aquilo" e esperar que outra pessoa o faça, porque a qualquer altura pode ser-se chamado a concretizar a ideia que teve. Se a ideia for sólida, implementá-la-á de bom grado; se for vã e sem sustentação, será forçado a admitir publicamente que afinal, não era uma ideia assim tão boa.

Mas nem sempre nos apercebemos que vamos cair na esparrela. Às vezes estamos a falar só por falar, e só  nos apercebemos que tivemos uma ideia quando levamos com o "Fazes tu?" em cima. Foi o que aconteceu comigo, numa inocente conversa online com uma antiga colega de curso. Começou com os habituais cumprimentos, "Tudo bem?", "Já não te vejo há muito tempo", "Pois, o último jantar de curso já foi há dois anos", "Ah e tal, temos que reunir o pessoal". O curioso da expressão "temos que reunir o pessoal" é que, apesar de parecer, não é ainda bem uma ideia, é uma expressão suficientemente vaga para que ninguém pense em concretizá-la. Diria mesmo que faz parte do cumprimento. É como dizer "tens de vir cá jantar um dia destes", na verdade toda a gente sabe que isso não quer dizer nada.

E eu, prestes a cair que nem um patinho, respondo com "Devíamos fazer um jantar de Natal em Novembro... Dezembro está sempre atolado com outros jantares...". E tumba! ela atira-me com um "Organizas???" para cima. Veio com tanta força que até me atirou ao chão. E enquanto me levanto estou a pensar: "Mas... o que é que aconteceu aqui? Ela, de repente, atribuiu-me a responsabilidade sobre uma ideia!! Pois claro, estava mesmo a pedi-las... quem me mandou falar em jantares de Natal? Mas... foi ela que disse no início que tínhamos de reunir o pessoal!!!"

É claro que, agora que fui desafiado, não vou dar parte de fraco. Não vou arriscar a que me digam mais tarde que só digo as coisas por dizer. A ideia até é uma boa ideia, é sólida, por isso vai para a frente. O Jantar de Natal do curso está marcado. A data é Sábado, 26 de Novembro, sensivelmente daqui a um mês, o local está pensado mas ainda não combinado, e este artigo do meu blog serve de convite para os participantes. Portanto, se são do curso de Engenharia Química, da Universidade de Coimbra, da classe de 1993 - ou é classe de 1998? Isto conta-se pelo primeiro ano ou pelo último? Bem, não interessa: se tiveram que me aturar como colega de curso, estão convidados!

Os convidados receberão mais informações à medida que as coisas se forem planeando. Tanto quanto me lembro é a primeira vez que organizo um evento desta envergadura, mas como disse Otto von Guericke quando descobriu o vácuo, "não há-de ser nada".

(P.S.: e agora aqui para nós que ninguém nos ouve: e agora o que é que eu faço? falo com o restaurante? mando emails com os convites? tenho que saber a ementa? e os preços? como é que eu sei o número certo de pessoas? alguém me dá uma mãozinha?)

12 outubro 2011

Nem ao menos disseste olá?


O que é que é suposto fazermos ao certo quando vemos alguém que conhecemos na rua ou no supermercado, mas a pessoa em questão não nos vê? Dizemos-lhe olá? Ou não lhe dizemos olá? É sem dúvida mais fácil quando simplesmente esbarramos um no outro, ou então vemo-nos ao longe mas ao mesmo tempo. Nessa altura dizemos olá naturalmente, trocamos beijos e abraços, pomos a conversa em dia. Mas quando vemos uma pessoa que não repara em nós, hesitamos. Vamos lá ter com ela e mostramos-lhe que também estamos aqui? Fingimos que não a vemos e tentamos sair sem sermos vistos? A meu ver existem quatro maneiras de resolver este problema, e vou falar sobre elas a seguir.

1. O Olhar Fixo
O Olhar Fixo funciona bem quando está sentado em algum lugar, ou simplesmente não estando em movimento. Não funciona bem em andamento, a não ser que ande na mesma direcção da outra pessoa. Além disso é necessário que esteja pelo menos no seu campo de visão. O método é simples: olhar fixamente para a pessoa que se conhece até ela reparar em si. Pode levar algum tempo para que isso aconteça, e entretanto irá observá-la a olhar em todas as direcções possíveis, todos os ângulos possíveis excepto aquele que aponta directamente para si. E vão haver algumas vezes em que ela não repara em si mesmo estando a olhar directamente na sua direcção. Mas, quando (e se) isso finalmente acontece, poderá então dizer olá de longe, ou então fazer a Ida Até Lá. O Olhar Fixo pode ser um pouco difícil se não estiver concentrado: se usar O Olhar Fixo só de vez em quando arrisca o aparecimento do Duplo Olhar Fixo, em que cada pessoa, à vez, tenta chamar a atenção da outra, mas desvia o olhar no preciso momento em que a outra começa a olhar para ela.

2. A Chamada
A Chamada é a forma mais perigosa das quatro, uma que pode embaraçá-lo irremediavelmente se não a usar correctamente. É melhor se usada perto da outra pessoa e quando O Olhar Fixo não funciona ou não está a funcionar. Na Chamada deve chamar a pessoa pelo seu nome ou de outra forma qualquer. Eu sugiro vivamente que chame a pessoa pelo nome, porque o uso de termos como "Pssssst" ou "Olááááá!" ou "Hei, tu aí!" fará com que toda a gente se vire e olhe para si, excepto a pessoa que está a chamar. E depois, se a pessoa estiver muito longe de si ou houver muito barulho, acabará por chamá-la vezes sem conta, sem qualquer sucesso que não o de alertar toda a gente à sua volta; nesses casos, o melhor é tentar a Ida Até Lá ou a Fuga De Mansinho.

3. A Ida Até Lá
A Ida Até Lá é para ser usada quando tudo o resto falha. É 100% eficaz, mas pode ser um bocadinho complicada porque é necessário ir até onde a pessoa está e chamar-lhe a atenção, ou tocando-lhe ou fazendo A Chamada. Nem sempre é possível ir para junto da outra pessoa, talvez não possa deixar as suas coisas sem ninguém para olhar por elas, ou não possa deixar o seu grupo de amigos. Há poucos dias encontrei um colega meu numa escada rolante, comigo a ir para baixo e ele a ir para cima; se fizesse a Ida Até Lá naquele sítio, seria o caos! Mas se tem oportunidade de ir até junto da pessoa, óptimo! Irá com certeza, definitivamente fazer com que ela repare em si. Mas primeiro deve perguntar-se a si próprio, será que ela merece uma Ida Até Lá?

4. A Fuga De Mansinho
Sim, você pode fazer essa escolha. Pode escolher ignorar e ir-se embora. Mas A Fuga De Mansinho não é apenas sobre ir-se embora. É que agora que decidiu que não se vai mostrar à outra pessoa, vai ter de se assegurar que a outra pessoa não o vê. Mais importante ainda, tem que se assegurar que ela não repare que você reparou nela! Porque se ela o fizer, vai notar também que está a tentar evitá-la. É por isso que é uma Fuga De Mansinho e não uma ida embora. Se conseguir fugir em segurança, A Fuga De Mansinho dar-lhe-á automaticamente uma breve consciência pesada e a incapacidade de contar aos outros quem viu nesse dia, porque se isso chega aos ouvidos da pessoa em questão, ela vai-lhe perguntar porque é que nem ao menos disse olá. Mas não se preocupe, vai correr tudo bem.

Poderá usar qualquer uma destas quatro formas dependendo da situação, mas eu acredito que uma pessoa pode ser definida pela forma que usa mais frequentemente. Diga lá então, que tipo de pessoa é?

(versão inglesa)