Também funciona com "Fazes tu?", "Ficas tu com isso?", "Tratas tu disso?" E no momento em que ouves qualquer uma destas simples perguntas, sabes imediatamente que estás tramado. Começas a pensar em tudo o que disseste até então, e perguntas-te vezes sem conta para que é que foste abrir a boca e como é que foste capaz de cair nesta esparrela.
Há um lema que persiste em algumas das boas e prósperas empresas de software. Penso que soará melhor dito em inglês: "if you have an idea, you own that idea". Se tu tens uma ideia, és o dono dessa ideia. Ser o dono da ideia significa, por um lado, assumir toda e qualquer responsabilidade pela implementação da ideia. Na verdade, não há pessoa mais indicada para o fazer que o autor, o idealizador da ideia, por isso é lógico que assim seja. Mas por outro lado, atribuir a posse de uma ideia ao seu autor significa também que é ele que colherá os frutos se a ideia for bem sucedida, o que também é justo.
As referidas empresas fazem isso para poder distinguir as ideias sérias e construtivas das ideias vãs e "atiradas para o ar". E assim que um colaborador dessa empresa percebe isso, ele sabe que tem que ter muito cuidado com as ideias que tem. Não basta dizer simplesmente "tem que se fazer isto", "o que se devia fazer era aquilo" e esperar que outra pessoa o faça, porque a qualquer altura pode ser-se chamado a concretizar a ideia que teve. Se a ideia for sólida, implementá-la-á de bom grado; se for vã e sem sustentação, será forçado a admitir publicamente que afinal, não era uma ideia assim tão boa.
Mas nem sempre nos apercebemos que vamos cair na esparrela. Às vezes estamos a falar só por falar, e só nos apercebemos que tivemos uma ideia quando levamos com o "Fazes tu?" em cima. Foi o que aconteceu comigo, numa inocente conversa online com uma antiga colega de curso. Começou com os habituais cumprimentos, "Tudo bem?", "Já não te vejo há muito tempo", "Pois, o último jantar de curso já foi há dois anos", "Ah e tal, temos que reunir o pessoal". O curioso da expressão "temos que reunir o pessoal" é que, apesar de parecer, não é ainda bem uma ideia, é uma expressão suficientemente vaga para que ninguém pense em concretizá-la. Diria mesmo que faz parte do cumprimento. É como dizer "tens de vir cá jantar um dia destes", na verdade toda a gente sabe que isso não quer dizer nada.
E eu, prestes a cair que nem um patinho, respondo com "Devíamos fazer um jantar de Natal em Novembro... Dezembro está sempre atolado com outros jantares...". E tumba! ela atira-me com um "Organizas???" para cima. Veio com tanta força que até me atirou ao chão. E enquanto me levanto estou a pensar: "Mas... o que é que aconteceu aqui? Ela, de repente, atribuiu-me a responsabilidade sobre uma ideia!! Pois claro, estava mesmo a pedi-las... quem me mandou falar em jantares de Natal? Mas... foi ela que disse no início que tínhamos de reunir o pessoal!!!"
É claro que, agora que fui desafiado, não vou dar parte de fraco. Não vou arriscar a que me digam mais tarde que só digo as coisas por dizer. A ideia até é uma boa ideia, é sólida, por isso vai para a frente. O Jantar de Natal do curso está marcado. A data é Sábado, 26 de Novembro, sensivelmente daqui a um mês, o local está pensado mas ainda não combinado, e este artigo do meu blog serve de convite para os participantes. Portanto, se são do curso de Engenharia Química, da Universidade de Coimbra, da classe de 1993 - ou é classe de 1998? Isto conta-se pelo primeiro ano ou pelo último? Bem, não interessa: se tiveram que me aturar como colega de curso, estão convidados!
Os convidados receberão mais informações à medida que as coisas se forem planeando. Tanto quanto me lembro é a primeira vez que organizo um evento desta envergadura, mas como disse Otto von Guericke quando descobriu o vácuo, "não há-de ser nada".
(P.S.: e agora aqui para nós que ninguém nos ouve: e agora o que é que eu faço? falo com o restaurante? mando emails com os convites? tenho que saber a ementa? e os preços? como é que eu sei o número certo de pessoas? alguém me dá uma mãozinha?)