30 setembro 2009

O homem que dispensa apresentações

Nunca tive jeito para apresentações. Aquelas onde se chega ao pé da outra pessoa e se diz "Olá, sou o João, muito prazer em conhecê-lo". Sim, essas mesmo. À primeira vista não parece muito complicado, mas o facto é que há todo um ritual na apresentação que é mais complexo do que parece e onde é muito fácil falhar em pequenas coisas. As pequenas coisinhas que transformam rapidamente algo perfeito em algo, digamos, desajeitado e, em última instância, estúpido.

A começar pelo nome. Sempre me fez confusão as pessoas se apresentarem dizendo o próprio nome. Não não, o próprio nome. Não algo tão sofisticado como "Olá, sou o João", algo mais duro e ríspido, como "João." Uma apresentação que podia ser moderadamente longa e educada é substituída por "João." "Maria." Assim, às três pancadas. Isto quando os novos conhecidos não dizem os próprios nomes ao mesmo tempo, o que acontece metade das vezes, regozijando-se por ter dito o próprio nome mas ficando, afinal sem saber o nome do outro. Ainda mais esquisito acho quando o meu interlocutor decide dizer o nome completo. "Pedro Morais de Vasconcelos." OK, é mesmo assim que ele quer que eu o chame? Será que me vê mais tarde a olhar para ele e dizer "Ó Pedro Morais de Vasconcelos, passa aí uma cerveja"? Por tudo isto e mais alguma coisa, muitas vezes não me apresento com o próprio nome, por isso a minha apresentação típica é algo deste género:

O outro - "Pedro Morais de Vasconcelos."
Eu - "Olá..."

Por outro lado, se não nos dizem o nome ficamos sem saber como a pessoa se chama, o que é uma chatice. Temos de esperar que mais alguém chame por ele, ou ele se apresente a outra pessoa, e se tudo o resto falhar temos de passar pela humilhação do "Como é que te chamas, mesmo?". Eu caí nesta esparrela já algumas vezes, talvez porque quando não dizemos o próprio nome o outro não tem necessidade de o fazer também. Lembro-me que na minha adolescência convivi com uma pessoa durante meses sem saber o seu nome. O problema é que o "Como é que te chamas, mesmo?" tem prazo de validade, se deixarmos passar muito tempo deixamos de o poder usar, a humilhação seria insuportável, como se fôssemos atingidos por raios ou algo do género. Felizmente, passados alguns meses, alguém chamou a pessoa pelo nome, e eu ouvi e registei. Não tive de passar pela humilhação, ainda maior que a anterior, de a pessoa descobrir que eu não sabia o nome dela, como aconteceu neste episódio do Seinfeld.

A melhor apresentação, a meu ver, é a que é mediada por terceiros. É a terceira pessoa que diz os nomes (e nada de nomes completos!), e os outros dizem "Muito prazer". Toda a informação está dada, toda a gente ganha. O "Muito prazer", ou, na sua forma abreviada, "Prazer...", é também muito interessante na medida em que é uma expressão que pode ir do hipócrita (será que temos mesmo prazer em conhecê-lo?) ao vagamente erótico (basta levar a expressão à letra). Dá também abertura à mais elegante expressão a usar em apresentações, "O prazer é todo meu". "O prazer é todo meu" torna uma apresentação perfeita: retira-lhe qualquer traço de hipocrisia e puxa-a para o lado do vagamente erótico, o que em muitos casos é uma mais-valia. É normalmente acompanhado do prefixo "Ora essa," mas no meu entender o prefixo é dispensável. Acredite e experimente usar "O prazer é todo meu" numa apresentação: verá os olhos do seu interlocutor brilharem de satisfação.

Frequentemente há pequenas coisas que falham nas minhas apresentações. Por vezes sinto-me culpado ao aperceber-me que, depois da apresentação, a outra pessoa não ficou a saber o meu nome. Outras vezes, digo o nome mas de fugida (muitas vezes entre o primeiro beijinho e o segundo), o que dá o mesmo efeito.

E no fim de tudo, o facto de saber que vou ter uma apresentação esquisita habilita-me a fazer ainda mais disparates. Os mais recentes foram com novos colegas de trabalho: estando habituado a ver estas pessoas todos os dias e dizer simplesmente bom dia sem cumprimentar ninguém, o que é suposto fazer afinal ao conhecer um novo colega? Ou, para complicar um bocadinho mais, uma nova colega? Uma delas, ao ser apresentada por outrem, levantou-se para me dar dois beijinhos, depois mudou para o aperto de mão, e por fim desistiu ao ver que eu começava a falar, dando a apresentação por concluída ainda antes de ter começado. Na segunda cometi o erro de saber o nome dela antes de a conhecer, quando a vi pela primeira vez saltei a apresentação, chamei-a e falei com ela normalmente, com a maior naturalidade, como se a conhecesse há meses... Pode parecer arrogante ou de má-vontade, mas acreditem, não é mais que falta de jeito.

Por fim, uma nota sobre o título deste post. É óbvio que o título é um bocado exagerado. Não me posso considerar um homem que dispense apresentações, apenas um que não tenha jeito para as fazer. Ainda assim, lá me vou apresentando como posso. Olá, eu sou o... aaaa... Posso causar uma terrível primeira impressão, mas prometo que isto vai melhorando com o tempo.

(english version)

07 julho 2009

Chegar e não chegar (eis a questão?!)

Eu sinceramente nem sei por onde começar... ou não começar...

Toda a gente já ouviu isto. "Tenho de me ir embora, ainda tenho de ir para Lisboa hoje, chegar e não chegar são três horas e depois fica para tarde".

Aparentemente isto até se percebe, quer dizer que se demora mais ou menos três horas para ir daqui a Lisboa. Podiam dizer simplesmente "demoro três horas a lá chegar" ou "até lá chegar são três horas". Porque é que não dizem isso, então? Para que é que vem com a história do "chegar e não chegar"?

Vejo um senhor da terceira fila da assistência a torcer o nariz. Sim, mas se fosse só para chegar lá eram só duas horas e meia, não é a mesma coisa que chegar e não chegar. O senhor da segunda fila também concorda.

Aqui é que a coisa começa a complicar. Aparentemente, "não chegar" também demora um certo tempo. O que é que é "não chegar"? Partindo do princípio que sempre que caminhamos para o nosso destino estamos a chegar lá, de onde vem a parte do "não chegar"? Será que a certa altura andamos para trás? E outra coisa: a parte do "não chegar" vem antes ou depois do "chegar"? Será que primeiro se chega e depois não se chega ou é ao contrário? Imaginemos que já chegámos: podemos dizer "Não posso, já estou em Lisboa mas não chegar aqui ainda leva meia hora, temos de marcar para outro dia"?

Se calhar é ao contrário. Primeiro não chegamos, depois é que chegamos. OK, então primeiro demoramos meia hora a "não chegar", e depois lá vamos nós para Lisboa. Espera, então mas "não chegámos" ainda antes de partir? Então e "partir e não partir", será que também leva tempo? E onde é que deixamos de "não partir" e começamos a "não chegar"?

O homem da terceira fila começa a acusar agora algum nervosismo. Ó homem, para que é que está a complicar, isto é tão fácil! Imagine que vai daqui para Lisboa. De certeza que não vai directo, vai parar uma ou outra vez pelo caminho...

E não parar, acrescenta o da segunda fila.

Depois de chegar a Lisboa, ainda tem de chegar...

E não chegar, interrompe o da segunda fila.

... e não cheg... Tem que chegar ao seu destino, depois chega ao seu destino e tem de estacionar o carro...

E não estacionar...

E depois pegar nas malas e entrar em casa.

E não pegar, e não entrar.

Como vê não é só chegar e está feito. Todas estas coisas podem demorar o seu tempo.

E não demorar!, remata, satisfeito, o da segunda fila.

Bem, com esta explicação fiquei sem palavras. Alguém tem dúvidas? Porque se tiverem, estes dois senhores terão o maior prazer em vos esclarecer. E não esclarecer.

27 junho 2009

Como é que sabes se aquela pessoa é um programador?

Os programadores (e os "doidos" da informática em geral) são uns bichos estranhos. O seu estado natural é enfiado frente ao computador, a dedilhar furiosamente no teclado, a escrever coisas que nem um poliglota saberia compreender. Mas mesmo quando não estão a programar, a sua atitude e maneira de estar são tão típicas da sua classe que por vezes podem ser reconhecidos a milhas de distância. É ou não verdade?

O que se segue é uma lista de pequenas expressões que denunciam a profissão do programador. As expressões foram retiradas do site Stack Overflow, que é um site de entreajuda para programadores (obviamente). As expressões que se seguem são algumas das mais votadas. Recomenda-se a leitura da pergunta original para verem todas as respostas e adicionar mais algumas que encontrarem.

Posto isto, digo-vos que poderão dizer se determinada pessoa é um programador se esta:
  • Usa parêntesis dentro de parêntesis na sua escrita normal (pelo menos é o que eu faço (às vezes)).
  • Começa a contar do zero em vez do um e considera 256 um número redondo.
  • Quando lhe fazem uma pergunta simples como Queres uma chávena de chá? faz uma pequena pausa antes de responder, como se estivesse a guardar os pensamentos anteriores no disco antes de processar a pergunta.
  • (Em alternativa) Quando lhe fazem uma pergunta simples como Preferes A ou B? responde Sim.
  • Está mais interessada em comprar e escolher um teclado do que em carros, sapatos, etc.
  • Interpreta as perguntas o mais precisamente possível, como por exemplo:
Esposa: Queres ir pôr o lixo lá fora?
Programador: Não. (posso ir, mas querer não quero)

Transeunte: Tem horas que me diga?
Programador: Tenho.

Esposa: Compra um pão de forma, e se houverem ovos, compra 6.
Programador: OK.
Esposa (depois da compra): Porque é que compraste 6 pães de forma?
Programador: Porque havia ovos.
  • Ri-se de piadas parvas como "Existem 10 tipos de pessoas: as que percebem binário e as que não percebem".
  • Se lhe perguntarem que linguagens conhece, enumera uma data delas mas não diz "Português" ou "Inglês".
  • Depois de uma longa conversa tenta lembrar-se onde a conversa começou e que passos deu até chegar ao ponto actual.
  • Tem tendência a terminar as frases com ponto e vírgula;
  • Se lhe pedirem para resolver um problema, refere todas as formas possíveis e imagináveis de o resolver.
  • Programador masculino: quando vê uma mulher atraente com um telemóvel de última geração na mão, olha primeiro para o telemóvel.
  • Diz que a sua cor preferida é #0000FF
  • Se lhe perguntarem que tipo de computador usa, não responde só com uma palavra.


01 junho 2009

Será que é preciso chegar ao Verão para as facas cortarem manteiga?

No grupo das expressões que são particularmente irritantes encontra-se a expressão "facas a cortar manteiga". Parece algo muito inteligente mas no fundo trata-se de uma expressão completamente desprovida de personalidade, algo que serve para tudo mas no fundo não explica grande coisa. Ouvir a expressão "facas a cortar manteiga" como resposta a uma pergunta não me deixa com a sensação de que a pergunta foi respondida, deixa-me, pelo contrário, a pensar em mais uma dezena de perguntas que terei de fazer.

Em primeiro lugar, o próprio objecto da expressão é ambíguo. A expressão tanto pode servir para algo que corte facilmente ("esta faca corta a carne como se fosse manteiga", "esta carne corta-se como se fosse manteiga"), como para algo que não corte bem ("esta faca só corta manteiga"). Portanto logo aí a expressão suscita a dúvida: se as facas cortam bem manteiga, isso quer dizer que cortam bem ou que cortam mal?

Mas o problema principal não é esse. O problema é assumir que todas as facas cortam manteiga. Ou pelo menos que a cortam tão facilmente como se diz. Acham que é verdade? Vejo-vos envergonhados, recusando-se a admitir, mas no fundo todos sabem o que quero dizer: Nem Sempre as Facas Cortam Manteiga! E todos chegam a essa brilhante conclusão quando vem o Inverno e está um frio de rachar, ou quando alguém se esquece e deixa a manteiga no frigorífico. Aquilo é um bloco duro e maciço, cujos bocados que cortamos são sempre maiores do que o que queremos. Se um extraterrestre descesse à terra e visse este bloco de manteiga, dificilmente concluiria que era a coisa mais fácil de se cortar à faca.

Toda a gente sabe disto. Mas ninguém assume este erro crasso, e continua-se a dizer por aí que é fácil cortar manteiga. Os mais conscientes acabaram por inventar uma série de eufemismos para que o erro não se torne tão visível: "Parece uma faca quente a cortar manteiga". "Parece uma faca afiada a cortar manteiga". "Parece uma faca a cortar manteiga mole". "Esta faca corta manteiga no Verão". "Esta faca corta manteiga nos trópicos".

Com tantos acrescentos e modificações, não deveríamos começar a achar que o problema está mesmo na manteiga? Não se consegue arranjar mesmo nada mais fácil para cortar? Experimentem cortar pudim, ou gelatina, ou banana sem casca, ou farinha, ou molho bechamel! Qualquer uma destas coisas pode ser bem mais fácil de cortar do que manteiga. Acreditem que se alguém me dissesse que algo "parecia uma faca a cortar molho bechamel", eu ficaria perfeitamente esclarecido.

Tenham um pouco de bom senso, e ajudem-me a erradicar este mito urbano da história da humanidade. E a dar à manteiga, que não é tão fraca como dizem, o seu merecido respeito.

21 fevereiro 2008

By the way...

My nickname is "J.". That is pronounced "J-dot". "Jota" is J in Portuguese, and djeidot would be the pronounce for "J-dot" written in Portuguese (if written in English it would be something like jaydot). I think that an English reader would pronounce djeidot the same way a Portuguese one, although I'm not certain of that. Maybe some day you can tell me.